Depressão
Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.
- Eu notei que desenvolvi um novo hábito ao caminhar por lazer ou para resolver alguma pendência do dia a dia. É um hábito curioso.
- Eu estou curioso agora, para saber desse seu novo hábito. O que se passa?
- Ao caminhar, eu observo as pessoas indo e vindo. Mais exatamente, observo a expressão facial e os olhares. E acabei ficando preocupado.
- Eu tenho visto nas calçadas e no supermercado muita gente com rosto retorcido, feições esmagadas, olhares do tipo “não quero contato”.
- Pois é exatamente isso que tenho notado. Claro, há alguns sorrisos, mas as caras fechadas, as caras feias, aumentaram muito. Seriam expressões de defesa? Por medo de tudo o que não é conhecido?
- Pode ser, mas acredito que haja muita gente com sofrimento psíquico. Muita gente com depressão não tratada que se fecha, se encapsula e sinaliza que não deseja contato ou proximidade.
- Eu noto isso em muita gente que sai para passear com o cachorro. Eu já deixei de fazer algum comentário sobre o cão, o porte, a pelagem, pois a reação de alguns tutores sinalizava que eu estava sendo inconveniente.
- Conheço alguns casos que se encaixam nessa descrição. Moram perto de mim, vivem sozinhos com o cachorro e são do grupo dos maduros, mais de 40 anos. Poucos respondem a um bom-dia ou emitem um sorriso.
- Sim, sim! Os ensimesmados que saem com o cão e são capazes de atravessar a rua para evitar cruzar com pessoas. Cheguei a pensar que fosse porque o cão poderia atacar, mas é para buscar distanciamento dos outros.
- Essa é uma nova realidade: pessoas que optam por distanciar-se de outras pessoas, mas buscam no cão a companhia de todas as horas. É o medo de sorrir, de dar um bom-dia e receber uma resposta acolhedora.
- E como explicar depois que “eu não quero contato; só disse bom-dia por educação”? Seria medo de ser assaltado, de ser rejeitado, de se decepcionar?
- Não sei dizer, mas noto a sinalização de “mantenha distância” ou “fique longe”. O preocupante é a expansão dessas reações. São reações saudáveis?