Moda 

Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.

- Não sei se é coincidência, mas tenho visto uma enxurrada de postagens sobre os tais bebês reborn. Parece que não há mais outro assunto...

- Não é coincidência; é o assunto do momento. Quando soube desses bebês pela primeira vez, achei-os verdadeiras obras de arte pela perfeição.

- Ah, sim. Alguns são tão parecidos com bebês reais que a gente se confunde. Mas o que chama a minha atenção é como o lúdico virou realidade.

- Eu li a respeito. Há casos de mulheres acionando a justiça porque a empresa negou-lhes o direito à licença maternidade depois de terem adquirido um bebê reborn. É o mundo da fantasia interferindo no mundo real. Acho isso um tanto preocupante. O que há por trás disso tudo?

- Pensei exatamente sobre isso. Muita gente anda insatisfeita com o mundo tal qual está estruturado. Alguns metabolizam isso, outros criam fantasias e refugiam-se nelas. Não aceitam o mundo, negam-no e criam o seu próprio.

- Um bebê reborn pode ser caro se parecer um bebê de verdade. E tem lá suas vantagens: não precisa de troca de fraldas, de mamadeira nem de banho. Não chora de madrugada e a mãe pode dormir seu sono completo.

- Sim. Pode levar o bebê reborn para a cama, sem risco de sufocá-lo se acabar dormindo sobre o bebê. Ter o seu bebê só para si e fazer a vida ter sentido.

- É o adulto regredindo à sua infância. E há casos em que o adulto que está preso à fantasia quer os privilégios do mundo real aplicados ao seu mundo fantástico. Esse parece-me ser um problema social.

- Outro elemento importante é o contágio mental. Alguém aparece cuidando de um bebê reborn e o desejo aflora em muitas outras pessoas.

- Exato. Será solidão? Sentimento de abandono? Sentimento de que não consegue encaixar-se no mundo? Necessidade de cuidar de algo só seu?

- É impressionante como o mercado reage rapidamente diante de um negócio promissor. Em todos os sites aparecem postagens com os bebês reborn.

- E surgem os oportunistas oferecendo imitações baratas que não passam de bonecas, das tradicionais. O mercado lucrando com as fantasias da moda.