Cura
Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.
- Li uma mensagem real, não dessas fabricadas por IA, que um pai enviou a um homem que autorizou a doação de todos os órgãos de seu companheiro com quem era casado. Não consegui conter as lágrimas, meu amigo.
- É mesmo? Alguém da família desse pai recebeu algum órgão?
- Sim, seu filho de 30 anos, recebeu o coração do companheiro. O pai escreve que não se sentia no direito de invadir o luto desse homem com a sua alegria, mas que o homem queria que alguém vivesse com os órgãos doados.
- Essa colocação é forte: não querer invadir o luto com a sua alegria. E, pelo visto, o homem que autoriza a doação vivia uma relação homoafetiva, não?
- Exato. O pai relata que nunca aceitou a orientação do filho, por influência dos seus pastores, mas que o coração que batia animadamente no peito do seu filho era o coração de um homem que amava e era amado por outro homem.
- Eu acho que choraria como você, viu? A vida tem dessas artimanhas...
- O pai continua dizendo que sabia que o filho tinha um companheiro que nunca o abandonara nesses momentos em que a morte o visitava. E que a família nunca quis saber desse companheiro, até se encontrarem no hospital.
- É mesmo? E o pai comenta sobre a reação deles, com esse encontro?
- O pai relata que sua esposa cercou o companheiro no quarto do filho para abraçá-lo e que ele, pai, também foi abraçar o companheiro. Os quatro teriam inundado o quarto do hospital com lágrimas de cura. Lágrimas de cura.
- É, foi mais que a doação de um coração. Muito mais para todos...
- Os pais do companheiro também não o aceitavam, nem seu relacionamento. O pai escreve que naquela mesma noite foram à casa dos pais do companheiro. O filho tocou a campainha e quando o pai veio atendê-los, a mãe disse-lhe que vieram para conhecer os pais do seu genro. Imagine só!
- Minha nossa! E como isso terminou? Estou emocionado com essa história...
- As duas famílias estão unidas pelos filhos. O pai credita ao companheiro responsável pela doação a cura não de uma, mas de quatro vidas! E não é?