Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.
- Eu não sei se você viu, mas há um movimento florescendo nos Estados Unidos, de alguns evangélicos contra a empatia. Inclusive, com artigos e livros publicados.
- Contra a empatia? Ainda não li coisa alguma a respeito. Conte-me sobre isso.
- Pelo que depreendi das leituras, há um receio crescente de que ser empático está obrigando evangélicos a aceitar situações que são intrinsecamente contrárias à doutrina que valorizam e seguem.
- Mas empatia não tem relação com amor e compaixão? Como um cristão pode ver conflito nisso?
- Esse é o ponto. Por conta do “amor e da compaixão” evangélicos têm sido obrigados a fazer concessões doutrinárias que lhes parecem inapropriadas.
- Já posso imaginar aonde isso nos levará. São os evangélicos conservadores, fundamentalistas, que interpretam os textos bíblicos literalmente. E que não aceitam que certas pessoas sejam incluídas em seus grupos.
- Parece que sim. Para eles, empatia tem de ter um limite. E, claro, esse limite eles é que definem.
- Você sabe que eu ando cansado dessa gente? Acho que eles estão certos: minha empatia com eles tem limites. Minha tolerância, também.
- Eu encontrei um jeito para lidar com isso, sem causar revoluções. Eu tenho me afastado silenciosamente de todos os meus contatos que são racistas, homofóbicos, radicais políticos e religiotas.
- Os que mais de dão trabalho são os religiotas. Usam o nome de Jesus e de Deus para justificarem discurso de ódio, de separação, de exclusão. Mas não vou gastar energia para argumentar com eles, nem para romper relações.
- Ótimo! Responder com silêncio e com afastamento é suficiente. Por exemplo, eu recebia muitas mensagens logo cedo com aqueles “bons dias” e “bênçãos de Deus”. A todas eu respondi para me retirar dessas listas.
- E as relações ficaram estremecidas, não?
- Claro! Deixaram de enviar essas mensagens e outras também. E eu não sinto falta. Que tipo de conversa posso ter com racistas, homofóbicos, extremistas, religiotas? A empatia que me perdoe, mas quero distância desse povo.
- Sem retrucar ou brigar, sem rupturas. O afastamento silencioso resolve tudo...