Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.
- Eu estou curioso para saber da sua avaliação sobre a cobertura dos jogos olímpicos, por parte da mídia jornalística.
- Você sabe o quanto eu ando decepcionado com o jornalismo impresso. E não é só pela quantidade de erros de português. É pela forma e pelo conteúdo das matérias veiculadas, muitas vezes sem conexão com as manchetes.
- Já sabemos que somos um país de analfabetos funcionais. Mas há um ranço nessa nova geração de supostos jornalistas que me incomoda: o redator acha-se superior à matéria. Parece não querer estar a serviço da matéria jornalística.
- Sem mencionar que textos vêm carregados de estereótipos, de preconceitos e de discriminações por uma mídia que pode desinformar, em vez de informar.
- Pois eu memorizei duas chamadas por conta do contaste que apresentam. Uma diz “Medina supera peruano e conquista medalha de bronze” e a outra “Tatiana é derrotada na final, mas conquista medalha”.
- Dois exemplos excelentes. O surfista Medina é apresentado como o que supera e conquista. Já a surfista Tatiana, como a que consegue uma medalha apesar de ter sido derrotada.
- Exato. Mas, vejamos: Medina recebe medalha de bronze e Tatiana, de prata. Medina superou um que ficou de fora da competição; Tatiana perdeu para a melhor da competição e conquistou uma honrosa medalha de prata.
- Um outro jornalista poderia ter escrito “Medina ainda conseguiu uma medalha de bronze” e “Tatiana conquista uma medalha de prata histórica”.
- Nessas chamadas que você memorizou, você vê machismo para exaltar o homem e menosprezar a mulher? Ou será que há relações de amizade entre Medina e o jornalista, que não existem entre Tatiana e o jornalista?
- Eu penso que há um hábito de sair escrevendo sem levar em conta a importância da isenção. Sei que é difícil escrever sem isenção, mas pode-se fazer um esforço para focar o fato, em vez de algum outro significado latente.
- Eu acho que sei o que você quer dizer: cuidar melhor da forma empregada para se expressar. Ler e reler com atenção. Tem havido um excesso no uso de “dois pesos e duas medidas”. Aliás, não só no jornalismo, não é mesmo?