Charme
Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.
- Por esses dias, lembrei-me de que nós dois temos algumas experiências com viagens nacionais e internacionais. Foram várias viagens a trabalho e lazer.
- Sim, várias. Algumas gerariam anedotas, já no aeroporto. Outras, gerariam certo pânico, como a minha volta da Inglaterra, em plena Guerra do Golfo. Tive de chegar ao aeroporto com 8 horas de antecedência. Oito horas, imagine!
- Sim, eu me lembro. Cada mala era aberta, o conteúdo despejado sobre um balcão e item a item examinado cuidadosamente. Sem mencionar que éramos abordados com a gentileza com que se abordam terroristas internacionais.
- Outra viagem que foi um desastre, foi minha ida a Fernando de Noronha. Atraso na partida em São Paulo, perda da conexão em Recife, chuva torrencial no arquipélago etc. E a pousada 3 golfinhos era medíocre. Muito medíocre!
- O frigobar trepidava tanto que caminhava pelo quarto. Ficava desligado. E os calangos, inofensivos, mas que se abrigavam na cama? E as refeições? Caríssimas, já que tudo vinha do continente. Até ovos e folhas.
- Não à toa que chamavam o arquipélago de Fernando de Medonha. As praias, o mar, os mergulhos salvaram o passeio, mas eu jamais retornaria.
- Em terra brasilis, não sabemos como servir ao turista para que fique bem impressionado e volte. Não entendemos que o freguês não é para uma vez.
- Agora, com a Olimpíada, fala-se da Cidade Luz, Paris. E a imprensa, incomodada com a arrogância francesa, destaca o outro lado da cidade. O lado das sombras que só o turista que está lá, vê. E fica horrorizado, mas é Paris...
- Eu tenho visto. Ônibus com turistas tendo o bagageiro arrombado quando circulam pelo centro e as malas saqueadas pelos moradores de rua. Furtos e roubos de celulares, relógios, joias e carteiras nem são mais reportados.
- Mas a atração não fica só por conta da Olimpíada. Quem é suficientemente corajoso para sentar-se em um banco numa praça, rodeado por uma horda de enormes ratazanas circulando livremente por todos os espaços?
- As colônias de ratazanas famintas de Paris superam, em muito, as do metrô de Nova Iorque. Nós, reclamando da Cracolândia, vemos charme e sofisticação até na sujeira e no abandono parisienses. Ratazanas de Paris têm charme?
René Henrique Götz Licht
Enviado por René Henrique Götz Licht em 27/07/2024