Erros de Português? XI
Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.
- Da vez passada, ou da mosca frita, para rir do cacófato “vespa assada”, você mencionou algo sobre entender a diferença entre ética e moral, lembra-se?
- Sim! Ouvi uma explicação que achei clara: ética trata do que é bom para a maioria, o tal “bem comum” e acaba sendo meio universal, sabe?
- Deixe-me ver se entendi: “Devemos aprender a reciclar” ou “Vamos evitar o desperdício, principalmente de alimentos”. Que tal? Estou no caminho certo?
- Sim! Note que suas frases são amplas e admitem muitas interpretações porque não falam do “como fazer”. Já a moral trata do que é certo ou errado. Nós sabemos que o certo para um pode não ser o certo para o outro.
- Eu já aprendi que não devo dizer “deixa eu ver se entendi”. O certo é “deixe-me ver se entendi”: “Apague a luz ao sair do quarto”, “Não deixe a torneira pingando”, “Não faça aos outros o que não quer para você”. Estou certo?
- Sim. Moral acaba sendo específica, clara, e não há muitas interpretações. Em “Apague a luz ao sair” não há o que discutir; a frase é direta e reta.
- Agora, veja aquela placa: “Sujeito a guincho”. Está errado. Deveria ser “Sujeito a guinchamento” ou “Sujeito a ser guinchado”. E aquela pixação ali?
- “O bonitão vive às custas do governo”. Está errado. Deveria ser “O bonitão vive à custa do governo”. Vamos riscar o “às custas”.
- Agora, uma outra questão: eu acho que “Fico no aguardo” soa estanho. Parece que fico esperando numa sala chamada “aguardo”. O que você acha?
- Você está certo. O correto é “Fico ao aguardo” ou “Fico aguardando” ou “Fico à espera do seu parecer”. A língua tem a sua lógica que nem sempre é clara.
- Anteontem vi uma matéria no jornal O Globo cujo título era: “Se sentindo acabado?”. Isso é desanimador. Por que não empregar a forma correta: “Sentindo-se acabado?”?
- Concordo, mas é erro tão difundido como o tal “Te amo”. Pode-se dizer “Amo você”. Já o “Amo-te”, correto, soa estranho para mim. O “Tu vai”, “Tu come”, “Tu pede”, está incorreto, mas cada vez mais comum. É o fim dos tempos?
René Henrique Götz Licht
Enviado por René Henrique Götz Licht em 09/03/2024