Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.

- Às vezes eu me pergunto para que envelhecer e acumular experiência de vida, se essa experiência não é usada em benefício próprio? A pessoa aprende, ensina esse conhecimento, mas não o aplica à sua própria vida.

-  Essa postura é comum. Os fariseus tornaram-se um símbolo disso que você descreve. É o sujeito que fala, mas não faz. E muitas vezes é crítico com os outros, mas incapaz de olhar para si mesmo a ponto de se transformar.

- Você se lembra do Edson, que foi meu colega de trabalho há décadas?

- Sim. Você o tinha em elevada consideração. Ele aderiu ao farisaísmo?

- Não sei se ele vive sob a sombra da mãe falecida, mas ele se esconde de si mesmo. Ele não se mostra e não diz a que veio. É difícil entender isso de um homem maduro e financeiramente independente. Ele fala, é crítico, sensato, mas não observa que não faz o que diz.

- Eu penso que ele sabe disso, mas talvez tenha medo. Medo do que a finada mãe pudesse achar dele. Medo do seu próprio espectro. Deve fugir de si mesmo.

- Mas o nível de conhecimento dele é suficiente para procurar uma terapia, por exemplo. Eu toquei no assunto. Quis saber, após todas essas décadas, quem ele era. Queria saber a que ele veio. Eu quase perguntei-lhe do que ou de quem ele se escondia, mas consegui refrear-me.

- E ele bloqueou você ou faz de conta que nada houve?

- Ele se reserva o direito de não tocar em certos assuntos, o que é uma confissão do que eu suspeitava. Claro, ele tem esse direito, mas por que esse medo de si mesmo?

- Bem, você descobriu algo importante: não existe possibilidade de vocês serem amigos. São colegas e assim permanecerão. Vocês têm visões de mundo muito distintas.

- Percebi isso também. Mas continuo achando que o bom economista é aquele que lida bem com a sua própria situação financeira. Por outro lado, sei que cada um só pode dar o que tem para dar...