Deve-se ajudar?
Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.
- Você se lembra da Marlene, aquela protetora de cães que eu ajudo há anos?
- Sim. Durante uns meses você levava produtos de limpeza até a casa dela, no Riacho Grande. E na pandemia, você passou a ajudá-la financeiramente. Eu cheguei a comentar com você que achava que um dia você iria se arrepender.
- E você tinha razão. Esse dia chegou. É um sentimento de arrependimento, de decepção, de ingratidão, de falta de consideração que você não imagina.
- Imagino, sim. Eu já ajudei muitas pessoas financeiramente e quando não pude mais, viraram-me as costas e passaram a tratar-me como inimigo.
- Pois é. Além de ajudá-la mensalmente com quase meio salário-mínimo, eu ajudava a custear as despesas com veterinários quando ela resgatava um cão abandonado e ferido. Foram mais de quatro anos contribuindo sem falhar.
- E agora que você está tomando essa medicação cara, deve ficar pesado para você. Nós dois somos aposentados e nossas aposentadorias não têm aumento, só reposição da inflação. Obviamente, isso não interessa a ela.
- Mas ainda assim, eu podia dar alguma contribuição. Expliquei-lhe das minhas dificuldades. Pensava em suspender temporariamente, mas mudei de ideia. Nesses anos todos, eu envie-lhe mensagem de parabéns pelo aniversário. Eu sabia da data pelo Facebook e coloquei-a na agenda e nunca a esqueci.
- Eu vou adivinhar: ela nunca enviou alguma mensagem a você porque nunca se interessou em saber quando você aniversaria.
- Exato. Isso me desmotivou a continuar ajudando-a. Assim que ela soube que eu interromperia a ajuda, ela deixou de ser amável e simpática. É como se tivesse me cancelado. Nem votos de boas-festas eu recebi dessa mulher que se dizia ser “uma mulher de Deus”.
- Vi muitas dessas “pessoas de Deus” serem gratas a Deus, mas não a quem as ajuda de fato. O que você fez, está feito e a lição, apreendida. Será que ela confia no “batei e abrir-se-vos-á” ou no “pedi e dar-se-vos-á”?
- A falta de gratidão e a ingratidão são vícios terríveis. Sinto-me livre agora!
René Henrique Götz Licht
Enviado por René Henrique Götz Licht em 13/01/2024
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