Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.
- Outro dia falamos de Schadenfreude e Zeitgeist. Hoje trago Weltanschauung.
- Das três palavras, Weltanschauung é a de compreensão mais complexa.
- Sim. Encontramos definições e explicações, mas a resposta vem de nós.
- Sim, porque visão de mundo é correto, mas significa o quê, afinal?
- Das três, Weltanschauung é a mais antiga. Um ícone da filosofia alemã.
- Parece uma palavra própria para os iniciados. Cosmovisão. E daí?
- Para mim, é o oposto de alienação. É a consciência do está à sua volta.
- Mas não é só consciência física, sobre as coisas e objetos, certo?
- Sim. Vai além da percepção. Você sabe do que está à sua volta, no amplo.
- Muitos entenderão apenas as palavras e não o que lhes significam.
- Bingo! Para se ter consciência do que está à volta é preciso autoconsciência.
- Obter autoconsciência é difícil quando tudo à nossa volta anda robotizado.
- Mas os menos conscientes funcionam geralmente no modo piloto automático.
- Verdade. Não refletem criticamente sobre o que fazem nem porque o fazem.
- Então, pouca autoconsciência produz pouca consciência do que está à volta.
- É um círculo vicioso. Funciona-se no piloto automático e fica-se alienado.
- E o nível de consciência de si e do todo é mínimo. Insuficiente para mudar.
- Uns poucos se desgarram da manada e pagam o preço por serem diferentes.
- Sim. São os que fazem o pensamento crítico avançar: poetas e filósofos.
- E, por isso, são atacados principalmente pelos religiotas do sagrado.
- As religiões lidam com essa consciência, mas de modo hermético, fechado.
- Sim, porque essas descobertas chocam-se frontalmente com as doutrinas.
- Penso no misticismo gnóstico, na cabala e no sufismo, por exemplo.
- Com acesso liberado apenas aos iniciados, não cerceados pelas doutrinas.
- E buscam níveis de consciência mais elevados de si e do mundo.
- Mas para isso precisam libertar-se de muitas convenções sociais enraizadas.
- Esse é o primeiro passo para novas descobertas: libertar-se de convenções.
- E isso é tão complexo, não? Vivemos imersos em convenções sociais.
- Sem nem sequer nos darmos conta do tanto de automatismo que produzem.
- E influenciam modas, paladares, visões estéticas, afetividade. Tudo!
- E influenciam principalmente a educação familiar e a escolar. Uma lástima!
- Ou seja, o automatismo começa na família e é aperfeiçoado na escola.
- E depois ainda dizem que a função da escola é ensinar a pensar.
- É verdade! É para pensar, mas só sobre o que as convenções nos ditam.
- Então, acabamos por gerar um centro de emburrecimento do pensamento.
- Perfeito. Aprendemos, mas nada ou muito pouco sobre o essencial.
- E o pior é que estamos cercados dos vigilantes das convenções. Os arautos.
- Sim. Arvoram-se o direito de impor seu pensamento a todos. Autoconsciência!