José de Souza Saramago
“As palavras proferidas pelo coração não têm língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler.”
Há uma conexão entre a linguagem do olhar e a linguagem dos afetos, do que parece residir “no coração”. A mente racional traduz essas linguagens com imprecisão.
“É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.”
O árduo esforço do autoconhecimento, do curar-se de rejeições, medo, culpa e pecado.
“Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.”
O mal do proselitismo político e religioso: convencer, arrebanhar para ganhar adeptos e doadores. E para instilar doutrinas que favoreçam a dominação.
“O problema não é um Deus que não existe, mas a religião que O proclama!”
As religiões não são inúteis; são nocivas!
“Não posso crer num deus que foi capaz de criar o ser humano.”
E esse Deus é apresentado como onipotente e soberanamente justo e bom.
“Por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o mais horrendo e cruel.”
E se esse Deus cristão existisse de verdade, permitiria o que se faz em seu nome?
“Nós somos manipulados, enganados, desde que nascemos!”
Quem já teve muita força e poder para movimentar essas cordinhas? A igreja?
“Quando a igreja inventou o pecado, inventou um instrumento de controle, não tanto das almas, porque à igreja não importam as almas, mas dos corpos.”
Criou-se o pecado para instilar a culpa e vender a salvação. Tudo em nome de Deus.
“Como podem homens com Deus serem tão maus?”
Se Deus é infinitamente justo e bom? E se é onipresente, onisciente e onipotente?
“Aprendi que o sentimento do amor não é mais nem menos forte conforme as idades, o amor é uma possibilidade de uma vida inteira, e se acontece, há que recebê-lo.”
O amor cura os sentimentos de rejeição, de culpa e do pecado.
“Há coisas que nunca se poderão explicar por palavras.”
“Se não disseres nada compreenderei melhor [...], há ocasiões em que as palavras não servem de nada.”
A força do silêncio. Há “coisas” cuja força de comunicação prescinde das palavras.
“Não é a pornografia que é obscena, é a fome que é obscena.”
Há abominações à nossa volta, mas olhamos para as menores enquanto as maiores se reproduzem livremente e com o beneplácito de todos.