Dois velhos amigos reencontram-se para jogar conversa fora:
- Fiz como você. Vendi todas as minhas ações e fundos imobiliários.
- Então, você não tem mais ativos negociáveis na Bolsa.
- Não. Cansei de perder dinheiro na Bolsa. Agora, só Renda Fixa.
- Mas você sabe que a Bolsa é o lugar certo para se ganhar dinheiro.
- Sei, claro. Meu problema não é com a Bolsa de Valores. Meu problema é com os assessores.
- Exatamente como eu. Esses que se intitulam assessores de investimentos.
- Sim. Jovens com certificações boas, CFP por exemplo, mas que entendem zero de cliente.
- O erro é nosso. Nós caímos no golpe do assessor de investimentos.
- Eu sei. Nós acreditamos que os assessores de investimentos iriam nos assessorar.
- Fomos otários. Eles são pagos pelas corretoras para assessorar bancos e corretoras.
- Eles recebem uma lista com papeis da prateleira da corretora para empurrar aos clientes.
- E como precisamos confiar nesses assessores, acabamos comprando os papeis sugeridos.
- Agora, quando esses papeis perdem valor ou derretem, os assessores ficam em silêncio.
- E nós, clientes, vemos nosso patrimônio diminuir. E como fugir disso?
- O investidor, você e eu, teria de desenvolver competência para operar na Bolsa.
- Eu até sei operar, mas toma muito tempo e disposição.
- Outra saída é contratar um assessor, mas isso é inviável para o nosso ganho.
- Eu fiquei profundamente desencantado com os assessores financeiros. Alguns são predadores.
- Nós dois perdemos bastante dinheiro com a assessoria que não tivemos.
- Sim, e ainda por cima tivemos de arcar com as taxas de corretagem. Acreditei em uma farsa.
- Os meus assessores de investimentos não passam de operadores de mesa das corretoras.
- Um dos meus assessores garantiu-me que era remunerado pela rentabilidade da carteira.
- Puro engodo. Nos últimos meses, nossas carteiras tiveram rentabilidade negativa, não?
- Rentabilidade negativa. E quando eu mostrava meu espanto, a argumentação era meu perfil.
- Para mim também: seu perfil é arrojado; perder faz parte. Isso é o que eu ouvia.
- Perder faz parte das regras, mas perder quanto? Quando a sangria deve ser estancada?
- Esses assessores de investimentos deixam o cliente sangrar até a morte.
- Os meus eram assim. Nunca me atiraram uma boia salva-vidas.
- Parece que eles nos observam perdendo dinheiro e sorriem com sarcasmo.
- É óbvio que não aplicam as regras que valem para nós, para seus próprios investimentos.
- Há tantos golpes ativos na praça, mas foi com assessores oficiais que mais perdi dinheiro.
- Eles se aproveitam da sedução que envolve o investidor ao começar a investir na Bolsa.
- Primeiro, achei que era a política da corretora, mas verifiquei que é a cultura das corretoras.
- Alguns desses jovens assessores de investimentos são de uma arrogância que dá nojo.
- Eles pensam que são deuses e que estão acima de tudo e de todos.
- Não, eles não pensam que são deuses. Eles têm certeza de que o são.
- Mas foi uma lição aprendida a duras perdas: não queira ser ganancioso.
- Eu também vejo por essa perspectiva. Acreditamos na Bolsa como fonte de ganho fácil.
- E acreditamos que nossos assessores de investimentos nos assessorariam para isso.
- E quando acordamos, havíamos perdido dinheiro e acreditado numa falácia.
- Eu seria mais enfático: eu diria que caímos no golpe da assessoria que não existe.
- Eu me sentiria mal com um título de assessor de investimentos, mas fosse operador de mesa.
- Eu também. Talvez, porque nós dois temos caráter.