Do que preciso no retiro
Movediça, arrastada decisão essa de retirar-se
dos tantos afazeres sempre para alguém outro;
Tal caminhada consumira-me um bom lustro
e, entre vacilações, fez-se, então, a catarse.
De mim, aprendendo a me ocupar comigo
como se fora, de imediato, imerecido castigo;
Tão parcos gestos de complacência reflexiva
que me interrogo como ainda permaneceu vida.
O tempo, esse negligenciado, agora me pertence
para atribuir-lhe bom valor ao usá-lo eu mesmo;
O horizonte abre-se para o que me convence
de quão imperioso é afastar-me do vagar a esmo.
Aproxima-se o tempo de libertar-me dos tantos fardos
que se foram acumulando ao longo dos anos,
produzindo chagas e chagas como que de dardos,
arrastados que vinham sendo por zelos inumanos.
Ah, os relacionamentos que se tornaram tóxicos
haverão de ser céticos, nulamente pragmáticos;
Extirpados, como dum canteiro as ervas-daninhas,
sem fazer falta, pois provêm de gentes comezinhas.
A reforma íntima tratará o entulho de pensamentos,
emoções, sentimentos, atitudes e comportamentos;
Especial zelo demolidor receberá a fábrica de ilusões,
companheira dileta dos fardos, das toxinas e das paixões.
Restará a complexa empreitada de aprender a amar
aquele que me é quase um estranho: sim, falo de mim!
Na intimidade comigo reconheço-me, aceito-me devagar
e valorizo-me, consciente de ser a melhor flor do meu jardim.
René Henrique Götz Licht
Enviado por René Henrique Götz Licht em 05/05/2022