Rancores & Humores
Dal foi ao hospital
visitar o padre Wenceslau
que andava mal
Esperou, esperou e não aguentou
Entrou assustado, logo repelido pelo acamado
‘você veio, foi trazer a pá de cal?’
O que era uma visita cordial
terminou tal e qual começou
com um comprimido de Melhoral
Wenceslau expressava seu amor
com palavras feias, de rancor,
mas esse era seu valor
Na fala mansa e enfadonha
vertia toda a sua peçonha
assim, sem vergonha
Dal sabia de cor o repertório
agia, sereno, nesse parlatório
da convivência no ambulatório
Rispidez era a senha
que escamoteava o bom-humor
da amizade ferrenha
Entre contrários e opostos,
sob olhares vetustos
os dois velhos justapostos
Riam-se internamente
da ingenuidade da mente
dos que não pensam diagonalmente
Poucos os entendiam
e, juntos, se riam
pois que nada pretendiam
Assustar ou chocar
rir e se divertir
da incapacidade de digerir
rancores e humores.
René Henrique Götz Licht
Enviado por René Henrique Götz Licht em 21/06/2019